Me conta você. Você acha que vale tudo? Ovo de páscoa de coxinha, Nutella com aipim, makimono de paçoca?
Quando alguém começa a ver na TV os programas de gastronomia, fica logo embasbacado com a capacidade do pessoal de criar novas receitas. Muitas vezes inusitadas, estas são desenvolvidas sob uma lógica, que invariavelmente, não é comentada nem expressa claramente no programa, nem mesmo em entrevistas e afins.
Essa lógica contempla técnicas para criar ou melhorar algo que cause a quem for comer, uma reação específica.
Mas daí tem o raio gourmetizador, mudando a lógica de muitas coisas para o senso comum e transformando os baluartes da gastronomia em “meros” cientistas minuciosos “exagerados” mestres. (Spoiler: sarcasmo)
Isso criou um ambiente em que qualquer um pode se sentir criando uma inovação para a gastronomia, mesmo sem saber como, para quem e porque.
A gastronomia proporciona o ganha pão de muitos microempreendedores que vendem quitutes e lanches para engordar ou sustentar suas receitas mensais.
Alguns, quando veem sites como o teste made ou taste brasil, acham que, baseado naquelas técnicas, são capazes de criar inovações para o mundo da gastronomia nunca antes vistas.
Será?
Esse é um dos aspectos que nos fazem pensar, há um limite para as “inovações” na cozinha?
ATENÇÃO; esse texto se pretende muito mais perguntar que responder, te fazer pensar e compartilhar do que direcionar um pensamento ou lógica.
Vamos analisar friamente, para que serve uma inovação ou novidade?
Muitos de vocês dirão, para abrir os horizontes, criar novas possibilidades, explorar flancos e trazer a tona coisas que ainda não foram feitas. Correto?
Eu trago um outro lado. As inovações vem para preencher lacunas de necessidades que ainda não foram respondidas, resolver problemas que nunca tiveram solução e para completar, apresentar ao mundo coisas novas que realmente possam agradar e vida das pessoas.
Façamo-nos uma pergunta, causar nas redes sociais é um real motivo para mexer na estrutura de algo consolidado e realmente bom?
Guarde sua resposta para daqui a pouco.
Quero trazer outras duas reflexões. Até onde você acha que se pode mudar uma comida popular a troco de inovar? Para mim, quando ela perde suas características mais marcantes, tem algo errado.
E por fim, onde diabos está explícito que PRECISA-SE mudar uma comida que todo conhece e gosta?
Daí faço mais uma pergunta, a versão em português da música Shallow te agradou? Ficou bacana? Para apimentar seu pensamento, a letra não tem NADA a ver com a original, transformando seu propósito completamente.
Agora pense em Abril perto da Páscoa. Data em que em tudo que é loja de mundo tem ovo de páscoa. Não se engane, todas tem.
Na páscoa passada, um JÊNIO (spoiler: ironia) resolveu usar uma forma de ovo de páscoa para fazer um makimono de salmão com cream cheese empanado na panko. Um hot philadelfia ovo de páscoa.
Curtiu? Resolveu uma demanda sua? Te motivou a comprar?
Nessa mesma páscoa, o povo tava sem freio. Empadão de ovo de páscoa, e ovo de páscoa de coxinha.
E eu te pergunto, para que isso, jovem?
Imaginou-se que juntar um troço foda que é a coxinha de galinha com um troço foda que é a páscoa, ia dar samba.
A qual dos questionamentos acima, responde o Ovo de coxinha?
Corta! Outra cena.
Escondidinho é um patrimônio nacional. Pois bem, o rapaz resolveu fazer um com Nutella. Aipim e Nutella.
Para que mexer num clássico dessa forma, destruindo as suas características mais marcantes, para juntar ingredientes que seriam bizarros de estar no mesmo prato?
Minhas resposta?
Sem saber como realmente inovar, blogueiro(a) mostra o corpo, já cozinheiro(a) metido a besta inventa onde não deve, só para causar nas redes sociais. E mais, não vende o que se propõe- como por exemplo o Juntos e Shallow now brazuca. Se você tem paladar e gostos bizarros e acha que eu to muito errado e pensar assim, por favor, me conta.
Agora, se acha que pode contribuir para me ajudar a descobrir o limite da gastronomia, me ajuda, porque estou meio sem esperanças, num mundo em que se destrói uma referência cultural de um povo por curtidas no Insta.
E te pergunto, qual é esse limite?
a meu ver, o limite da gastronomia não muda, fica sempre dentro do circulo do respeito.
respeito à história - no momento de fazer uma versão sua de um clássico, que essa mudança inclua a sua própria história, que essa sua releitura envolva algo que some e não multiplique. que ela preserve a alma e os ingredientes principais e traga técnica nova e pertinente, mas principalmente que tenha o sabor e a qualidade do original.
dentro desse mesmo circulo do respeito vemos os comensais, é pra eles que direcionamos, ou pelo menos deveríamos direcionar nosso foco. servir bem para servir sempre. sabor e qualidade, desde o primeiro ingrediente até a montagem. não me incomodam abordagens jocosas de formatos sazonais como…