Não há o que esconder.
2020 foi o ano mais diferente da vida de algumas gerações.
Até meio de março, já prometia ser um ano diferentão, algumas coisas já aconteciam e nos davam pinta que não ia ser um ano qualquer.
Mas NINGUÉM saberia o que aconteceria e qual seria a extensão do que se seguiria. Tudo que aconteceu, esfregou na nossa cara, ora delicadamente, ora de forma agressiva, as verdades que estavam em nossas frentes e quem não queríamos- ou podíamos- ver.
Isso sim, foi o que desencadeou toda a disrupção da qual estamos envolvidos. Nunca tivemos tanto a ver, a ter e a pensar como agora. Nunca vimos tantas certezas absolutas cercadas e dúvidas incríveis, tornando o senso comum uma smooth de incertezas e nossas mentes, granolinhas salpicadas por cima, cada uma com do seu jeitinho.
O meu Universo é costurado com o que comemos e bebemos. O de vocês também, mesmo que nem sempre tenhamos a atenção merecida para isso. E no meu Universo, tudo mudou. Sim, eu sei, em todos os universos tudo mudou, mesmo que ainda tenhamos muitas pessoas que lutem com mais energia contra isso, mais até do que se tivessem aceitado e seguido em frente. Mas o que mudou?
Tudo se acelerou. Nada de “novo” veio à tona. Tudo já mudava antes, os indícios de aceleração das mudanças são cada vez maiores. Tudo que era uma tendência antes, virou realidade, e não somos capazes de dizer ainda qual será o caminho que devemos tomar na maioria delas.
Perceba, na maioria. No nosso caso, nós sabemos qual caminho tomar. Cada vez mais deveremos aprender a conviver com esse vírus, e com outras adversidades. Nossa economia está mudando, a matriz do consumo de bens materiais está migrando para bens imateriais como a experiência, serviços e outros. A relação com o valor do dinheiro mudou. Mais vale um PS5 do que um gol bolinha. E o setor de alimentos e bebidas está na vanguarda da mudança. Isso eu afirmo.
Sabe por quê?
Porque precisamos mais do que os outros segmentos.
Fazendo uma foto do setor antes da pandemia: muitos de nós em situação de dificuldade, modelos operacionais e de gestão antiquados, sem modernização acelerada, com baixíssimo nível de capacitação formal dos gestores- ainda mais especializada- e por fim, muito turnover, por serem profissões duras, com muito trabalho, pouco dinheiro e com poucas perspectiva de plano de carreira e ainda, discriminação social, afinal, quem quer ser garçon quando criança?
"A relação com o valor do dinheiro mudou. Mais vale um PS5 do que um gol bolinha. E o setor de alimentos e bebidas está na vanguarda da mudança. Isso eu afirmo.
Sabe por quê?"
No início do ano, estimava-se que perderíamos 40% da oferta de alimentos e bebidas. Segundo pesquisa da Abrasel, isso se confirmou. Segundo a matéria da EATER, revista americana especializada, até nos EUA isso se confirmou, inclusive de forma até romantizada.
Olhando o Big Picture, o mercado se ajustou à diminuição de público. A boa e velha lei da oferta e da demanda.
MASSSS...
Me dediquei muito a produzir conteúdo para quem é do meu setor, para ajudar a traçar planos, caminhos e destinos para sair da quarentena com grandes chances de retomar faturamento, gestão e vendas. O mantra sempre era o mesmo: a palavra de ordem não é resiliência, mas adaptabilidade. Falei tanto isso, que as pessoas me encontravam na rua e brincavam comigo.
Sabemos que devemos nos profissionalizar mais, criar ambientes propícios para nos adaptar mais rápido, pois outros covid virão.
Esse ano tivemos muitos revezes sem serem provocados por vírus. Perdas, mudanças de matriz econômica, modelos de negócios, e até mesmo OVNIS divulgados pela marinha americana e NASA. Em meio a isso, viramos nossos canhões para as entregas de comida, para salvar nossos negócios e abrimos um flanco que não se fecha mais. Descobrimos que não precisamos de tanta gente. Isso SE reorganizarmos nossos processos e procedimentos. Descobrimos na retomada outros modelos operacionais. Encontramos vários casos de restaurantes que se reinventaram e mudaram seus modelos, com um grande sucesso, abrindo precedentes para mais mudanças. Por que precisamos seguir os padrões de parâmetros dos anos 50 e 60? Sim, ainda seguimos muitos deles. Dos mercados mais desenvolvidos e maduros, o nosso foi o que menos mudou seus modelos de gestão e operação nas últimas décadas.
Aí estão as oportunidades. De colocar em prática um método mais eficiente, fazendo as coisas em menos tempo e com menos esforço.
Sim, até nos terrenos mais arenosos, nascem plantas.
Novos entrantes estão vindo, gente boa, com idéias sensacionais (podem me contratar inclusive!) e que trazem novos modelos, mais eficientes e mais prontos para reagir mais rápido e contundentemente às adversidades.
Estamos diante de oportunidades únicas de fazer nosso mundo da gastronomia mudar para melhor, estar resistente a isso é um retrocesso. Estamos de costas para o ano em que começamos a nossa reinvenção e diante do ano em que a consolidaremos.
O meu desejo? Um ano de mudanças, de aumento de produtividade e lucratividade. De retomada com qualidade e não números pomposos. Ver o setor parar de vender o almoço para comprar o jantar e finalmente, amadurecer mais e mais no sentido da eficiência e da vanguarda de produzir momentos e experiências que valem muito mais do que o preço que se paga por elas.
Igor muito lúcida suas colocações, o setor de A&B, mais do que nunca precisa alterar os seus processos e, muitos já percorreram este caminho. O desafio ainda será muito grande, principalmente, nas questões dos trabalhadores.